02/12/10

Swans no Gelo

Os Swans não estão mortos nem velhos, estão de volta! No passado domingo visitaram a cidade de Baudelaire -o maldito- para quebrar o gelo da longa ausência. Os inrockuptibles Swans foram recebidos num cenário burlesco. Paris congelou por estes dias. Um frio de rachar gauleses e neve, muita neve a contrastar com as sombras da cidade. Tal como aqui citado Julien Green refere que a cidade tem outra alma quando os vagabundos saem à rua para povoar bairros que vão para além do mítico Spleen. Paris é vagabunda e silenciosa, boémia e vadia. É sedutora e inebriante. Há cidades assim, perigosas! Paris tem a flânerie e o encanto que faz recordar a outra Lisboa, a outra Praga, a outra Istambul. As cidades e os seus rios... propensas aos (en)cantos de Lautreámont: desconfia delas se te parecerem demasiado belas!
Ao fim da tarde de um Domingo branco, a multidão aglomerava-se à porta do 60éme Rue de La Bellefuille. Saltitante, batendo as luvas em ritmos sincopados para enganar o frio, a fauna era uma estranha mistura de gente, maioritariamente gente que já tem uns anos disto. O rapaz da t-shirt preta, o trintão com óculos de massa tamanho XL, punks e góticos (ainda), gajos barbudos versão farmville, fãs de cabelo escuro, petites filles do irritante look teen dream importado de Brooklyn, casacos de cabedal e bicicletas do outro lado da estrada. Pela fauna podia-se concluir que havia ali muito boa gente que sabia ao que ia, outros tantos nem faziam ideia do que os esperava do outro lado da barricada.
Os Swans entraram a matar, com o estrondo sonoro de "No Words/No Thoughs” sem dó ou piedade. Chegaram, partiram a loiça e nem deram tempo para as típicas exclamações lá do burgo: “ahué, arhrrhrhr... sont les Swans!" Ainda na primeira meia hora, já com os sentidos em desconstrução, sentimo-nos esmagados pelas guitarras, baixo e bateria. Bem perto do Bois de Boulogne os cisnes transformaram-se em patos bravos, aos primeiros acordes já tínhamos perdido o norte. Um concerto que poderia ter sido inventado na alvorada da revolução francesa entre sangue e suor, triunfo e guilhotina. O primeiro tema acabou com uma distorção avassaladora e quem lá ficou já adivinhava o que se seguia: um tareão em modo colosso sonoro.
É incrível a postura de Michael Gira em concerto. Ergue-se no palco como um pregador de massas mas o curioso é que este missionário não usa a palavra. É líder, incapaz de gerar empatia, mas profícuo na devoção cega que naturalmente cria no público. Raios partam a voz do anjo negro! Gira alinhava-se em frente ao palco como sacerdote possuído pelo demo, o ar taciturno de sempre, um suor vibrante, como se quisesse resgatar a Bastilha e arrancar os olhos ao Sarkosy. De costas voltadas para o público incentivava o resto dos mosqueteiros a lançarem a corda e foi em Eden Prison que fomos guiados a toque das cordas e suas reverberações. Liberdade, igualdade e fraternidade o tanas, os Swans dão-nos a música que querem e quem não está preparado para esta frente sonora, mais vale abandonar a sala, emigrar para a Sibéria ou então acaba decapitado. Contas feitas, valeu cada pena do cisne! Contudo a actuação ficou aquém das expectativas. Atendendo ao vasto repertório e ao tempo de ausência da banda, a duração do concerto foi um insulto! Faltou muito mais num concerto que não foi além do último trabalho e de dois temas de Children of God. Espero que o alinhamento e a duração do concerto na Aula Magna seja mais alargado, senão e como bons tugas só nos resta fazer um escândalo. O Gira que se cuide que a malta por cá tem um assobio bem mais acutilante!
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