Acabei de ler “Viva México”, recente e magnífica edição da Tinta da China sob a coordenação de Carlos Vaz Marques. Mais uma assinalável parceria com Alexandra Lucas Coelho. Altamente recomendado.
Há livros que nos fazem viajar, outros tantos que se limitam a testemunhar uma viagem, mas nem todos os autores conseguem arrepiar com as suas crónicas. O México é assim, exactamente como Alexandra o descreve. Façam o favor de ler este livro, ou então peguem na Mochila e corram o risco!
Há livros que nos fazem viajar, outros tantos que se limitam a testemunhar uma viagem, mas nem todos os autores conseguem arrepiar com as suas crónicas. O México é assim, exactamente como Alexandra o descreve. Façam o favor de ler este livro, ou então peguem na Mochila e corram o risco!
De tão real nas vivências e nas descrições “Viva México” desperta-nos a “larva mexicana”: existe uma lenda mexicana sobre a larva de um cacto. Reza a lenda que quem come cacto, ingere uma espécie de larva que vai germinando nas entranhas fazendo-nos regressar. Quando estive no México comi cacto, mole, guacamole, tacos, burritos, bebi mezcal e tequilla, enfim ingeri todo o tipo das “larvas del retorno”, tamanha fatalidade!
“Viva México” desperta esta larva, as inquietações, uma "sangria que às vezes dá saúde, às vezes mata", como cantava muchíssima querida Lhasa. Quando viajei pelo Yucatan, conheci um jovem que lia José Saramago, sob o pretexto de ser portuguesa e de adorar Saramago, comecei a conversar com o jovem. Poucas horas depois falávamos de literatura, de pintura, de arte, de política, da revolução, da história do México, de gastronomia. José Baquedano ainda hoje é um grande amigo. José é neto de um Yucateca contador de "liendas". “Ahorita vamos a platear?”- sim tal como relata Alexandra nas primeiras páginas do seu México - o José como bom mexicano, conversava durante horas e contava tantas lendas! Numa das pausas da viagem, enquanto nos banhávamos num maravilhoso cenote, José disse: “há outra lenda yucateca - quem bebe da água do cenote, voltará sempre ao México”. Eu bebi.
Visitei o México em Setembro de 2008. Esta viagem modificou toda a minha percepção da América Latina. A partir de então desci a rota dos Aztecas, segui a Rota dos Maias (Guatemala, Honduras, El Salvador e Nicarágua) para acabar no templo dos Incas. O México é a porta de entrada da América Latina. Mais tarde, ao ler os Detectives Selvagens e o 2666 do chileno Roberto Bolaño decidi voltar ao inquieto deserto mexicano. O México é mágico, fascinante, delicia-nos, seduz-nos, mata-nos!
“Viva México” desperta esta larva, as inquietações, uma "sangria que às vezes dá saúde, às vezes mata", como cantava muchíssima querida Lhasa. Quando viajei pelo Yucatan, conheci um jovem que lia José Saramago, sob o pretexto de ser portuguesa e de adorar Saramago, comecei a conversar com o jovem. Poucas horas depois falávamos de literatura, de pintura, de arte, de política, da revolução, da história do México, de gastronomia. José Baquedano ainda hoje é um grande amigo. José é neto de um Yucateca contador de "liendas". “Ahorita vamos a platear?”- sim tal como relata Alexandra nas primeiras páginas do seu México - o José como bom mexicano, conversava durante horas e contava tantas lendas! Numa das pausas da viagem, enquanto nos banhávamos num maravilhoso cenote, José disse: “há outra lenda yucateca - quem bebe da água do cenote, voltará sempre ao México”. Eu bebi.
Visitei o México em Setembro de 2008. Esta viagem modificou toda a minha percepção da América Latina. A partir de então desci a rota dos Aztecas, segui a Rota dos Maias (Guatemala, Honduras, El Salvador e Nicarágua) para acabar no templo dos Incas. O México é a porta de entrada da América Latina. Mais tarde, ao ler os Detectives Selvagens e o 2666 do chileno Roberto Bolaño decidi voltar ao inquieto deserto mexicano. O México é mágico, fascinante, delicia-nos, seduz-nos, mata-nos!
Torna-nos lânguidos durante o dia, atentos a cada minuto e mortos-vivos à noite! Desperta-nos nos arrombos do Mezcal e da Tequilla, na música, nas cores, nas memórias de Frida e Diego, adormece-nos debaixo do vulcão, de cara en la pared..., leva-nos a todas as fronteiras, ao coração da palavra Revolução, faz-nos chorar! Sim o México faz-nos chorar!
Tenho de regressar. Reza a lenda que México será para siempre mi casa…
«A Europa está morta e eu sou europeia. Ou, mais exactamente, do Velho Mundo. Ao fim do primeiro dia na Cidade do México, a levitar como se me tivesse dissolvido na multidão, vi que sou do Velho Mundo. E ao longo de três semanas a viajar pelo México, do deserto de Chihuahua à selva do Yucatán, vi como sou do Velho Mundo.
O México dá vontade de chorar, um choro de séculos em que não percebemos porque choramos, se somos nós que choramos, se não seremos nós já eles. Nunca, em lugar algum, me pareceu que tudo coexiste, tempos e espaços, cimento e natureza, homens e animais, até aceitarmos que o nosso próprio corpo faz parte daquela amálgama acre, ligeiramente ácida, de pele suada com muito "chile".
Octavio Paz descreve os mexicanos como o mais solitário dos povos, perpetuamente incapaz de transpor e ser transposto. Por isso, e por tudo e por nada, existe a "fiesta". É uma necessidade orgânica, a descarga.
Este Novo Mundo começa no extermínio, e isso há-de significar qualquer coisa. No tempo indígena significa que o extermínio histórico faz parte do presente.»
Viva México, Alexandra Lucas Coelho, Tinta da China ed.(2010)
O México dá vontade de chorar, um choro de séculos em que não percebemos porque choramos, se somos nós que choramos, se não seremos nós já eles. Nunca, em lugar algum, me pareceu que tudo coexiste, tempos e espaços, cimento e natureza, homens e animais, até aceitarmos que o nosso próprio corpo faz parte daquela amálgama acre, ligeiramente ácida, de pele suada com muito "chile".
Octavio Paz descreve os mexicanos como o mais solitário dos povos, perpetuamente incapaz de transpor e ser transposto. Por isso, e por tudo e por nada, existe a "fiesta". É uma necessidade orgânica, a descarga.
Este Novo Mundo começa no extermínio, e isso há-de significar qualquer coisa. No tempo indígena significa que o extermínio histórico faz parte do presente.»
Viva México, Alexandra Lucas Coelho, Tinta da China ed.(2010)
Foto: Persona, México Set. 2008