25/09/11

ReMisTake #009: No Pop_Corns, just Cinema!



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00:00 Kyle Eastwood and Michael Stevens - Gran Torino
05:45 Clint Eastwood - Doe Eyes (Love Theme From The Bridges Of Madison County)
10:10 Ennio Morricone - The Good, the Bad and the Ugly
12:30 Clint Eastwood - Unknown Girl Of My Dreams
14:32 Clint Eastwood - Rowdy
17:15 Clint Eastwood & Lee Marvin - Best Things
20:50 Clint Eastwood - Gold Fever
23:40 Ennio Morricone - A Fistful Of Dollars
26:30 Clint Eastwood - For All We Know
28:35 Dinah Washington - Soft Winds (The Bridges Of Madison County)
31:30 T.G. Sheppard & Clint Eastwood - Make My Day
34:30 Lalo Schifrin - Dirty Harry Theme

«Penso que tenho sido suficientemente realista e é isso que sou nesta altura da vida. Sempre senti que as pessoas têm que evoluir. Se alguma vantagem há na idade, é o conhecimento e a experiência, até ao dia em que me surja alguma espécie de pré-senilidade, julgo que vou continuar a explorar isso. Mas se uma pessoa não está disposta a aceitar a idade que tem, não se pode fazer isto [continuar à frente das câmaras como actor sem temer a sua comparação com a imagem icónica de jovem actor]. Nesse caso uma pessoa não pode senão sentar-se e dizer, 'Bem há 40 anos atrás eu era esse tipo que corria e empunhava esta arma'. Não que não possa fazê-lo até determinado ponto, mas não está certo. O que é justo é jogar agora na minha área. Brinquei com a idade em "In the line of fire", mas agora é altura de dizer 'é isto que és e aquilo que serás'. Podia pintar o cabelo e dizer que voltei a ter 35 anos. Mas não tenho e não o vou fazer.»
Clint Eastwood, in Film comment, 2005 execerto da entrevista de Amy Taubin, in Clint Eastwood, Um Homem com Passado, Cinemateca Portuguesa, Museu do Cinema, 2008, p.83

A propósito de Grand Torino (Escrevia assim em 8 Março 2009)

Foi ao som de uma salva de palmas que terminou a projecção de Grand Torino na passada sexta-feira na Cinemateca Portuguesa. Enterrada na cadeira, fiquei presa ao tema final de Grand Torino e lembro-me de não ter vontade de sair da sala. Apetecia ficar por lá toda a noite, e rever os filmes de Eastwood com e sem o próprio. Clint Eastwood é um homem sem idade, um dos maiores realizadores vivos. É pois com assumida audácia que me arrogo afirmar: "existem dois tipos de amantes de Cinema os que se rendem a Clint Eastwood e... os outros".

Sergio Leone afirmou:"Eu gosto do Clint Eastwood porque ele tem somente duas expressões faciais. Uma com o chapéu e outra sem ele". Em Grand Torino Clint Eastwood põe o chapéu, tira o chapéu e olha-nos nos olhos! Grand Torino é pois muito mais do que apenas mais um filme de Eastwood. É a imagem projectada no espelho, é um álbum de memórias, a recolha de ícones cinematográficos criados pelo próprio Eastwood. Já aqui falei na dificuldade de escrever sobre os seus filmes, e com toda a seriedade esta dificuldade é cada vez maior. Mas é impossível resistir a esta terceira face de Eastwood, o seu olhar. O que mais me intriga e fascina nos filmes de Clint Eastwood é um denominador comum: o arrependimento por algo que se fez ou se deixou de fazer. A ideia de redenção é uma constante. Tudo se desenrola como se o realizador procurasse, através da absoluta humanidade que imprime nos seus filmes, encontrar a absolvição da culpa, do erro, da omissão, da ausência de discernimento e consciência, a ideia de transcendência e plenitude, no grande plano da moral ou do excesso dela. Neste Grand Torino Eastwood alcança, finalmente, a redenção. Apesar de não se confessar pelo (em) nome próprio, nunca entregando as mãos a quem o reporta a Deus, apesar de não acreditar na eternidade nem na feição "agridoce da morte", Clint atinge a paz redimindo-se do pecado capital. Clint deixa o chapéu, baixa a arma digital e confessa-se, por fim, de braços estirados na relva como o um novo redentor: Eis-me perante o Ti em nome da vingança que é tão enganadora como a própria morte. Clint Eastwood encontra o seu "Personal Jesus" e Grand Torino é um capítulo da Bíblia.

O cenário é a América de Obama, dos netos do Tio Sam, a América onde o crime tem nome de raça e de vergonha. São de raça e de vergonha os homens que em tempos partiram para a terra prometida. São de intolerância e de arrependimento, de multi culturalismo e identidades esquecidas, reprimidas. Clint é Walt Kowalski , um americano de descendência polaca, que herdou o perfil de Harry Callahan, o "dirty harry" de Siegel, o bom , o mau e o vilão numa só personagem. Walt Kowalsky é o cowboy de Leone, o justiceiro incorruptível, o inspector rabugento, o Frank Corvin da Ford, os homens de Iwo Jima, o estandarte da bandeira dos seus antepassados. É impossível não sentir uma enorme empatia por este Walt Kowalski, é impossível não chorar a sua morte. Mas é ainda bem mais agradável olhar Clint Eastwood através dos seus próprios olhos, sentido a sua própria música. Imperdoável esse olhar: casas comigo Clint?
SA

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