Sábado na Bica. Duas mensagens e já está: eis o Mark Steiner a subir a rua a passo largo, sorriso igualmente abundante, amigos portugueses a tiracolo, casaco e calças pretas, cabelo desalinhado com as cores de terras frias. Um Viking com sotaque nova iorquino numa das ruas mais empinadas de Lisboa? Naaaa not a viking or another PopStar, mas um amigo em (de) Portugal. Já dizia o outro, Vinni Reilly (Durutti Column, Friends in Portugal), que Portugal era sítio bom para fazer amigos.
Mark Steiner uma das figuras mais bem conhecidas no meio musical underground da capital Norueguesa, chegou uma semana antes do concerto agendado para o Bad Trip Fest de Coimbra. Nascido na terra do tio Sam, acolheu a capital norueguesa como sua casa, de tal forma que é difícil não o confundir com a mítica imagem de um Senhor dos Fiordes. Um verdadeiro norueguês. Mas não é. Mark é um nova iorquino a vaguear pelas cidades da Europa. É um rocker que faz amigos pelo mundo, deambulando pelos cantos sombrios de pubs à hora de fecho, seja em Nova York, Paris, Berlim, Melbourne ou Oslo.
No passado fim-de-semana Mark foi de Lisboa. E por cá, fez mais amigos.
Lisboa acolheu Mark Steiner sem lhe dar espaço para um merecido concerto. É este o fado dos poetas malditos na cidade de Pessoa. A Lisboa "moderna", que se deixa encantar pela rapaziada dos loups e outros gangs igualmente minimais de interesse esquece, por vezes, a música das ruelas, a que que tem calor, vida e letra dentro.
As cidades nuas não se podem dar ao luxo de não fazer soar música arrancada às cordas da guitarra, escondida numa voz encorpada, vinda das veias do rock. Lisboa nunca poderá ser uma cidade de música enlatada! Aqui a poesia e o rock bebem-se engarrafados e a rolha não é descartável.
Seguiu-se um domingo vagabundo, uma tarde de gargalhadas coroada por um jantar de amigos, o sacrifício do bacalhau, o ritual do vinho tinto, concertos de sofá e janela aberta. Por lá passaram outros amigos comuns - de Bowie a Petra a Magoni - coroando com devida vénia, a música de Paredes e todos os outros que emprestaram a voz ou empenharam a vida a cantar desassossegos.
Mark está por terras do Mondego. Amanhã mostrará o projecto com o qual se tem apresentado ao vivo por toda a Europa, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia: Mark Steiner & His Problems.
Pena que Lisboa ainda não tenha tido a ousadia de se apresentar aos problemas de Mark Steiner. Mas não tardará pois quando a cidade respira, a poesia acontece e o rock põe-se a jeito para sair à rua. Ficamos então à espera que uma das "cidades" transformadas em Bar no Cais de Sodré se convide.
E enquanto Lisboa adormece Coimbra...