10/03/11

Edição de Março

Era uma vez um país formado de siglas, letras esparsas, compassos longos escritos em dó (lamento) maior, opressão e autoritarismo.Certo dia, as siglas caíram e o país ficou destroçado sob as sombras do regime que fez tombar estátuas e sonhos, perpetuando a arte como única forma de expressão da identidade de um povo. Era uma vez a antiga URSS, o teatro Bolshoi, Fiódor Dostoiévsky, crime, castigo e a redenção: a música de Tchaikovsky.
Senhores e senhoras bem-vindos ao Concerto. O realizador é romeno (Radu Mihaileanu), o maestro é russo, Andrei Filipov (Alexei Guskov) e a orquestra, uma parceria europeia onde há lugar para judeus, ciganos, eslavos, latinos, russos e uma solista do país da igualdade, da liberdade e da fraternidade (interpretada por Mélanie Laurent). É este o tema central do Concerto, uma ode à unificação dos povos, à queda dos muros, à arte em detrimento da política; à música de Tchaikovsky.
Era uma vez um maestro que recusou as imposições governamentais do regime de Brezhnev e optou por não afastar os músicos judeus que integravam a Orquestra Bolshoi. Nesse fatídico dia, um solo de violino foi interrompido pelas forças do regime que invadiram o palco, dilacerando famílias, rasgando uma das mais belas partituras de sempre: o Concerto para Violino em Ré Maior de Tchaikovsky. Entretanto, passados 30 anos, o regime comunista caiu e Andrei, o antigo maestro, é agora empregado de limpeza do Teatro Bolshoi. Uma noite apanha um fax com um convite do Teatro de Châtelet para que a Orquestra de Bolshoi vá tocar a Paris. Nesse momento Andrei decide reescrever a história pelas suas próprias mãos. O maestro inicia um frenético contacto com os seus antigos músicos. A ideia é criar uma outra orquestra e, fazendo-se passar pela Orquestra de Bolshoi, viajarem para Paris e actuarem no Châtelet de modo a levarem a cabo o outrora interrompido Concerto para Violino de Tchaikovsky.
O Concerto é uma verdadeira tragicomédia. O ritmo é frenético (por vezes a lembrar Emir Kusturica) e as personagens são magnificamente estereotipadas, dando-nos um retrato de uma Rússia desordenada, ainda a tentar recompor-se da derrocada do regime comunista. Há a sobriedade e a nostalgia dos grandes nomes da cultura da Rússia, o retorno à Paris simbólica, as trapalhices dos russos, os esquemas dos ciganos e as traficâncias dos judeus. Este Concerto é também uma paródia muito actual que conta com uma excelente banda sonora em crescendo emocional, gradualmente revelando a trama de um enigma que testemunha o drama dos efeitos do regime da ex-URSS na vida dos seus cidadãos. Uma nota acentuada, muito particular, para a excelência da interpretação de Alexei Guskov, sublime! Viva este maestro! O Concerto é um filme divertido e despretensioso, uma comédia que deixará o espectador com um sorriso na cara e lágrimas de puro êxtase. Para aplaudir de pé e deixar soar a ovação que se segue aos grandes momentos musicais: Bravo!


Revista Audio e Cinema em Casa, SA
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