Quando era criança gostava de saltar para dentro de poças de água com os meus botins de borracha. Nos fins de tarde, subia aos ramos das amoreiras para recolher as folhas que alimentavam o exército de bichos de seda capsulados em caixas de sapatos. Esperava por todas as Primaveras para ver o voo das borboletas brancas. Mas por vezes, as borboletas nasciam mais cedo, abandonavam a caixa escondida debaixo da cama, decorando as paredes do quarto como uma metamorfose precoce de tons acinzentados. Depois a caixa ficava vazia debaixo da cama e os casulos esburacados avisavam que tinham cumprido a sua missão. Quando os botins de borracha deixaram de me servir, comecei a passar por cima das poças de água.
Ontem fui ver o Cisne Negro e lembrei os bichos que escondia na incubadora de cartão. Curiosamente sempre gostei mais das lagartas do que das borboletas! Darren Aronofsky e Natalie Portman têm estado há muito tempo fechados em caixas de sapatos! Agora é a vez do espectador sair, ir ao cinema e, o mais importante não se deixar levar por etiquetas da indústria cinematográfica. Pensar pela sua própria sensibilidade. No Cisne Negro não há o triunfo do cinema sobre a música, ou sobre o ballet (essa discussão é estéril quando se fala de artes maiores). O cinema vale o que vale e este Cisne terá certamente o mérito de levar muita gente a outras salas! Aos auditórios onde tocam grandes orquestras sinfónicas e onde dançam companhias de bailado (clássico ou contemporâneo) verdadeiramente excepcionais. Oxalá apareça em breve um realizador que consiga passar para o grande ecrã, um filme e uma atriz capacitados a despertar a atenção para as artes do trabalho vocal onde ainda há tanto preconceito. De resto se o filme é bom ou mau, o critério passará pelo crivo de cada um. Fica o convite para que não nos deixemos levar por entusiasmos empacotados para as massas, urge olhar a arte (ou descobri-la) de acordo com aquilo que verdadeiramente nos causa um arrepio na pele e na alma. Pela nossa parte fica o convite, vejam muito cinema e sigam-no até onde ele vos levar: atrevam-se a tirar caixas de sapatos debaixo do colchão ou então, comecem a dançar descalços dentro de poças de água.
Ontem fui ver o Cisne Negro e lembrei os bichos que escondia na incubadora de cartão. Curiosamente sempre gostei mais das lagartas do que das borboletas! Darren Aronofsky e Natalie Portman têm estado há muito tempo fechados em caixas de sapatos! Agora é a vez do espectador sair, ir ao cinema e, o mais importante não se deixar levar por etiquetas da indústria cinematográfica. Pensar pela sua própria sensibilidade. No Cisne Negro não há o triunfo do cinema sobre a música, ou sobre o ballet (essa discussão é estéril quando se fala de artes maiores). O cinema vale o que vale e este Cisne terá certamente o mérito de levar muita gente a outras salas! Aos auditórios onde tocam grandes orquestras sinfónicas e onde dançam companhias de bailado (clássico ou contemporâneo) verdadeiramente excepcionais. Oxalá apareça em breve um realizador que consiga passar para o grande ecrã, um filme e uma atriz capacitados a despertar a atenção para as artes do trabalho vocal onde ainda há tanto preconceito. De resto se o filme é bom ou mau, o critério passará pelo crivo de cada um. Fica o convite para que não nos deixemos levar por entusiasmos empacotados para as massas, urge olhar a arte (ou descobri-la) de acordo com aquilo que verdadeiramente nos causa um arrepio na pele e na alma. Pela nossa parte fica o convite, vejam muito cinema e sigam-no até onde ele vos levar: atrevam-se a tirar caixas de sapatos debaixo do colchão ou então, comecem a dançar descalços dentro de poças de água.