Esqueçam tudo o que já viram do trabalho de Tim Burton, esqueçam todas as adaptações do universo de Lewis Carrol e comecemos pelas evidências.
Era uma vez um chapeleiro louco que convidou um realizador não menos alienado para tomar um chá. Ao chegar ao fundo da toca do coelho o chapeleiro disse: “Burton! Estás muitíssimo atrasado. Maroto!” A profecia cumpriu-se. Alice no País das Maravilhas é, antes de mais, uma inevitabilidade na obra de Burton. Afinal o realizador sempre andou “no outro lado do espelho”. Eis pois a primeira evidência: Alice no País das Maravilhas vale pelo reencontro de dois mundos paralelos. A reconfiguração visual e estética do universo de Lewis Carrol é conquistada por este Burton no País das Maravilhas. Sem grande esforço, como uma espécie de intrusão consentida, Tim Burton ocupa o território de Carrol concretizando uma espécie de profecia.
Segunda evidência: Burton retrata uma das características mais marcantes no livro de Carroll: o apelo à imaginação. Guiados pela fantasia de Tim Burton acabamos por reinventar a “nossa”Alice. A adaptação vai para além de uma história para crianças. Em jeito de conto fantástico, Burton recupera a Alice para todos os adultos que a deixaram perdida em Hampstead Heath. Para onde vai a Alice de Tim Burton? Para o Underland ou para a Wonderland? Alice está nitidamente entre os dois mundos coexistentes na obra do realizador. Mia Wasikowska é Alice reinventada, regressa aos 19 anos ao excêntrico mundo que encontrou quando era criança reunindo-se com velhos amigos de infância: o Coelho Branco, Tweedledee e Tweedledum, a Ratazana, a Lagarta, o Gato Cheshire, o Chapeleiro Louco e claro o próprio realizador, ou não fora ele também personagem deste “Estranho mundo de Carrol”.
Outra evidência: Burton sabe escolher personagens. O chapeleiro louco, velho amigo de Alice é interpretado por e Johnny Depp. Jonnny e Tim são uma dupla de sucesso, basta recordar Eduardo Mãos de Tesoura, Ed Wood, A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, Charlie e a Fábrica de Chocolate, A Noiva Cadáver e Sweeney Todd. Mais uma vez a parceria resultou, Johnny Depp assenta que nem uma luva na personagem meio louca especialista na dança Futterwacken. Outra parceria de sucesso com Tim Burton é Helena Bonham Carter a vilã, rainha da cabeça gigante, de vasta cabeleira vermelha e o vício hilariante da decapitação. Anne Hathway é a Rainha Branca. Personagem supostamente cândida, alva, sonsa, plena de maneirismos barrocos, trejeitos punk-gótico-vegans, absolutamente “burtoniana”, uma delícia. Há oráculos, a centopeia azul (magnífica a voz de Alan Rickman), há malteses, o gato Cheshire e um coelho branco. Há um guarda-roupa absolutamente genial - sem dúvida um dos pontos altos da recriação de Tim Burton - há ainda a música de Danny Elfman, pois claro. Tantas são as cores, os pormenores, as referências estéticas. Por tudo isto, Alice não é o filme mediano do realizador, é a viagem prometida, uma passagem obrigatória. Por vezes importa esquecer tudo o que já vimos, perder a razão. Esta Alice pode ficar a perder perante as maiores criações de Tim Burton, mas quantas vezes tem o criador de cair no buraco para recuperar a fórmula certa? Burton sabia o risco que corria em alinhar com uma grande produção e todo o hype alucinado que se criou em torno do filme. Citando o chapeleiro que se dizia louco: “existe um mundo fantástico, uma terra de maravilhas, mistérios e perigos”, foi aí que Burton mergulhou. “Some say to survive it: you need to be as mad as a hatter”. É esta a Alice de Tim Burton: um encontro tardio para um chá, um banquete fantástico. Em suma, um capricho com assinatura de um dos maiores chapeleiros vivos.
Segunda evidência: Burton retrata uma das características mais marcantes no livro de Carroll: o apelo à imaginação. Guiados pela fantasia de Tim Burton acabamos por reinventar a “nossa”Alice. A adaptação vai para além de uma história para crianças. Em jeito de conto fantástico, Burton recupera a Alice para todos os adultos que a deixaram perdida em Hampstead Heath. Para onde vai a Alice de Tim Burton? Para o Underland ou para a Wonderland? Alice está nitidamente entre os dois mundos coexistentes na obra do realizador. Mia Wasikowska é Alice reinventada, regressa aos 19 anos ao excêntrico mundo que encontrou quando era criança reunindo-se com velhos amigos de infância: o Coelho Branco, Tweedledee e Tweedledum, a Ratazana, a Lagarta, o Gato Cheshire, o Chapeleiro Louco e claro o próprio realizador, ou não fora ele também personagem deste “Estranho mundo de Carrol”.
Outra evidência: Burton sabe escolher personagens. O chapeleiro louco, velho amigo de Alice é interpretado por e Johnny Depp. Jonnny e Tim são uma dupla de sucesso, basta recordar Eduardo Mãos de Tesoura, Ed Wood, A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, Charlie e a Fábrica de Chocolate, A Noiva Cadáver e Sweeney Todd. Mais uma vez a parceria resultou, Johnny Depp assenta que nem uma luva na personagem meio louca especialista na dança Futterwacken. Outra parceria de sucesso com Tim Burton é Helena Bonham Carter a vilã, rainha da cabeça gigante, de vasta cabeleira vermelha e o vício hilariante da decapitação. Anne Hathway é a Rainha Branca. Personagem supostamente cândida, alva, sonsa, plena de maneirismos barrocos, trejeitos punk-gótico-vegans, absolutamente “burtoniana”, uma delícia. Há oráculos, a centopeia azul (magnífica a voz de Alan Rickman), há malteses, o gato Cheshire e um coelho branco. Há um guarda-roupa absolutamente genial - sem dúvida um dos pontos altos da recriação de Tim Burton - há ainda a música de Danny Elfman, pois claro. Tantas são as cores, os pormenores, as referências estéticas. Por tudo isto, Alice não é o filme mediano do realizador, é a viagem prometida, uma passagem obrigatória. Por vezes importa esquecer tudo o que já vimos, perder a razão. Esta Alice pode ficar a perder perante as maiores criações de Tim Burton, mas quantas vezes tem o criador de cair no buraco para recuperar a fórmula certa? Burton sabia o risco que corria em alinhar com uma grande produção e todo o hype alucinado que se criou em torno do filme. Citando o chapeleiro que se dizia louco: “existe um mundo fantástico, uma terra de maravilhas, mistérios e perigos”, foi aí que Burton mergulhou. “Some say to survive it: you need to be as mad as a hatter”. É esta a Alice de Tim Burton: um encontro tardio para um chá, um banquete fantástico. Em suma, um capricho com assinatura de um dos maiores chapeleiros vivos.
Disney (2010), DVD9, 104 mins
SA, Revista Audio e Cinema em Casa, edição 227 ( Jan/Fev 2011)