“Estou estúpido da cabeça”, exclamava o contrabaixista enquanto constatava a sala cheia do S. Jorge. "Nunca pensámos encher esta sala"- afirmava Pedro Gonçalves um dos mentores de um dos melhores projectos musicais da cena tuga. Os Dead Combo subiram ao palco com uma Royal Orquestra para assombrarem tudo e todos num concerto estrondoso, uma das maiores catarses que a velha sala da Av. da Liberdade já testemunhou. Salvas para a Orquestra Royal: Ana Araújo ao Piano; Alexandre Frazão na Bateria; João Marques - Trompete e Flughelhorn; João Cabrita – Saxofone e Jorge Ribeiro no Trombone, compõem o ramalhete de luxo. Entre padrões musicais lusitanos, westernianos (seja lá o que isso for) influências de latinas paragens, os playboys lusos fizeram do estrado do S. Jorge um laboratório de sons, uma espécie de Atlas musical, algures entre o Trópico de Câncer e a linha do Equador ou se preferirem, entre a Praça da Alegria e o Cais do Sodré.
Foi um concerto estrondoso, entre sopas de cavalo cansado, e assobios ébrios aos candeeiros toscos da Lisboa antiga. Cantou-se Amália na guitarra de Tó Trips, Paredes também por lá andou e não faltou a devida homenagem ao mestre Tom Waits e à Bica do Carlos. A viagem foi feita num carrossel de uma feira popular que a cidade já não tem, correu-se atrás dos putos que andam a roubar maçãs e até se dedicou um tema aos gajos dos andaimes.
Vénia, vénia meus senhores que nos deram música da boa e da melhor, a fazer inveja a muitos gringos e outros putos de pratos toscos e loops enjoativos. Música encorpada, com ligeiro travo frutado, que nos deixa a garganta seca e o corpo possuído pelos arrombos de uma massa sonora densa, sólida, enorme! Música sem corantes nem conservantes, interpretada pela fina-flor, à flor da pele deixando-nos orgulhosos e com vontade de gritar: isto é nosso caramba!
Como se proclamou em palco: “um gajo tem de fazer aquilo que gosta e aquilo em que acredita”.
Definitivamente estes "gajos" fazem aquilo que gostam. Nós, "os que vão ao Cais do Sodré” , também gostamos e também ficámos "estúpidos da cabeça!"